
Lembro-me de uma amiga, linda, da minha adolescência que sempre dizia que só os garis e pedreiros falavam gracinhas pra ela. Obviamente, não acreditava naquela lamentação. Eu no auge da minha beleza (pelo menos eu achava) ouvia cantada de todos os pedreiros, garis, porteiros e garotos bonitos, também! Naquela época, detestava ouvir elogios de homens que eu considerava "sem chance" alguma e ficava tão furiosa que muitas vezes insultava-os.
Quando saí do Brasil, pela primeira vez, percebi que lá fora eu não era tão celebridade assim. Mal era notada entre um guindaste e outro. Não era uma queixa, apenas constatei a diferença cultural.
Na minha temporada francesa, descobri mais uma vez que os homens não veem você passar, eles não te percebem no meio da multidão. Mulher lá é igual mulher de melhor amigo: bigoduda. E elas se sentem muito agredidas ao receberem onomatopeias pela rua.
Onde mais você atravessa a rua e o motorista de ônibus pisca a lanterna pra você e te manda beijos? Em que outro lugar os homens sofrem tanto de torcicolo como os daqui? Não importa a classe social e tem sempre um virando o pescoço para olhar melhor o "derrière". Chega a ser divertido.
Apesar de nunca ter gostado de receber cantadas na rua achei estranho não tê-las. E hoje, consigo entender melhor essa cultura do brasileiro.